quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Deus está no SPC

Olhe bem a seu redor e diga: quem foi que fez a luz? A resposta para esta pergunta é simples e todos sabem que foi por causa dele que surgiu o pecado original. Sim, porque se não houvesse luz, não haveria sombra; se não houvesse sombra, talvez as plantas morressem esturricadas; como as plantas não morreram, a macieira sobreviveu, e assim, pecado original.
O mesmo culpado pela criação da luz está em dívidas com todos os criados. Ainda que não se tenha que chegar até Adão, é possível perceber que a causa de tudo está no começo, afinal vem antes da consequência.
Por que minha filha não anda? Por que meu chefe me odeia? Por que eu não arranjo um marido? Por que eu não passo de ano?
Esse mar de perguntas vai estourar em um único sujeito: Deus. Se é por conta dele que ninguém achou o pote de ouro no final do arco-íris, – e nem vai achar – a conclusão é uma só: Deus está em dívida com todo mundo. Dívidas longas e longevas, mas que não prescrevem nunca. E ele fica lá, no SPC como o maior devedor de todos.
Será que ele conseguirá limpar seus dados cadastrais algum dia? Acho que isto só ocorrerá quando ele disser: “Apague-se a luz, pois já estou saindo daqui”.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Será a volta?

Depois de esboçar tantos textos nunca publicados, ou sequer escritos, acho que devo voltar.
Mas o motivo não é tão digno quanto a leitura pelo prazer: trata-se da escrita pela necessidade.
É monografia chegando e os dedos digitam um ritmo lento, desregrado, desgraçado.
Quero reavivar a cãimbra habitual dos metacarpos e a coceira do crânio.
E assim, o acesso à justiça poderá ser efetivado.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Algo latente late intermitentemente.

Observo de soslaio uma pequena teia de aranha se formar no canto do teto com a parede. Observo atentamente essa junção feita pela construção. A sustenção para o céu limitado de um cômodo. Penso agora onde estaria o canto do céu estrelado. Tão vago, tão distante e cheio de estrelas na minha cabeça...
Com uma atenção quase que felina, vejo minha pequena aracnídea mover-se a tecer sua casa-devoradora. Minha casa, meu refúgio, tudo um suberfúgio para comer. Também me alimento sob meu teto, mas horas também fora dele, oras! O céu da minha casa agora se torna um simples indício de algo maior, maior que o céu. Tão sombrio e escuro para mim agora..
Mas a pequena trabalhadora pouco parece se importar com a quantidade de luz do dia. Sua habilidade artesanal é quatro vezes superior que a dos homens. Ah, se houvessem apreciado as aranhas como eu antigamente... Talvez a genética tivesse evoluído mais rapidamente que a engenharia 'moderna'. Investir em novos braços para otimizar o trabalho dos operários que já nem sabiam mais o que era o anoitecer. Ah, a noite... Cada vez mais densa e preguiçosa...
Choque aracnofóbico! Que precisão e discrição! Já até havia me esquecido da costura do canto da minha parede. Canto, um canto quase que ninfético. Será que o céu teria ninfas voadoras? Brisa, leve, leve, bigorna em meus olhos.

E o sono segue preso em oito patas, seguro numa teia.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

São palavras.. apenas palavras mal deglutidas, mal saciadas, mal trabalhadas.
Todos os sentimentos passaram num flash, ou guardam o temor da distância.
Num segundo, o trem-bala deixa de ser um simples doce, e aí vem a tragédia.
Uso minhas palavras com um gosto bem agridoce. Indecifrável é o sentimento.. mas também não quero a codificação. Aliás, fujo da codificação perfeita também. Tudo muito enclaurusado.

Algo desliza no meu corpo.. Há algo que circula nas minhas veias e vai contra o ritmo mensurado do coração.
As letras saem sem sentido, todas controladas por algo que a natureza dessa vez deixou a desejar.
A mistura de gostos que sinto não é normal. Nada é preto, nada é branco. O cinza é na verdade a brincadeira, a demosntração do degradê de sentimentos.

Tudo esmicuído. Joio e trigo na mesma cesta.
É soyo, é romeu e julieta num doce indissolúvel.
É amor antigo que ainda grudado nas paredes das artérias, alimentando o coração implicitamente. É amor antigo que não pode crescer, pois há enfarto.
Deixe o novo amor circular livremente, ora pois.

Nessa mistura de sangues, minha boca sente o agridoce, e minha mente assiste à confusão.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Eu tenho ambas as mãos.
Não consigo viver sem elas.
Eu tenho ambas as mãos.
Uma está em uso, mas preciso sempre da outra.
Eu tenho ambas as mãos.
E escrevo sobre isso.
Eu tenho ambas as mãos.
Por vezes achei difícil saber que tinha duas.
Eu tenho ambas as mãos.
Caminho, mas tenho minhas mãos.
Eu tenho ambas as mãos.
Não quero que o mundo saiba disso.
Eu tenho ambas as mãos.
Por mais que as coloque nos bolsos.
Eu tenho ambas as mãos.
Sempre que uma quebra, a outra sustenta.
Eu tenho ambas as mãos.
E não tenho dúvida disso.
Eu tenho ambas as mãos.
Elas fazem parte de mim.
Eu tenho ambas as mãos.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

sem título

Histeria!
Vejo uma cidade sendo abastecida com ela.
Ela figura naquele ponto mais alto, e fica dentro de uma caixa. Essa é a caixa central, e é de onde saem os canos.

Além do encanamento primário ser histérico, o secundário [onde cairão os dejetos] é composto de esperança.
Isso, jogue merda na esperança enquanto bebe de uma fonte singular.

Cidade satélite?
Não, não.. trate-se de solar mesmo.

E a Andrômedra, ao longe, não pára de ver na agenda, o dia da libertação das algemas.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Nada

O mundo é redondo
"não, ele é geóide!"
nada como um asteróide
atravessando o sol de pondo.



[Esse trecho assim mostra que além de eunão saber fazer poesia, também não sei falar do mundo]


Ponho o sol numa travessa
Astro é só quem pode
famoso escreve ode
eu devia ir embora depois dessa.