segunda-feira, 30 de julho de 2007

Ciclo sem conjugação

Não é que esteja dentro; mas na linha.
Não é que haja passado, viva o presente, e tente prever o futuro; tudo é cíclico.

Se digo "me arrependo dos fatos do passado", conjugo o verbo no futuro, me abstendo no presente.
Meu passado tem erro e furo; ele não é do presente. Nem do pretérito.
Não consigo viver nessa designação presente mais-que-perfeita; apelo para o imperfeito.

E o porvir?
Se tiver início quando o passado termina, muda-se a rotação dos ponteiros do relógio, e o fim se sela adiante.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Criações...?

Foi a pouco tempo atrás que eu ainda estava tentando recolocar essa substância pulsante no meu corpo.
Ela insiste em pular fora. Pula forte, pula alto, e sai do corpo.
Cada vez que ela cai, algum machucado adquire. Remendos em cima de remendos.

Ok, admito a culpa dessa vez.
Quis retirá-la para melhor remendá-la, e olha no que deu: remendos antigos se partiram.
Jorro de sangue. Nada mais podia ser salvo.
Fui vendo minha pobre massinha murchar.
Todos os fatos que a alinhavam, sumiram. Via-me banhada de sangue; não o sangue das veias [essas não entendem a verdadeira química existencial].
O sangue em questão é composto por lágrimas. As lágrimas são o sangue do coração.

Uma vez eu tive uma outra criação: um Frankenstein.
Ele era também cheio de remendos, mas por assim ser, amado.
O fato é que ele visualizou a distância de um raio, e criou vida alheia.
Não podia ver o pobre Frankie se tranformar num mero boneco de vodu. Deixei-o partir.

Hoje em dia, sinto-me um Gepeto às avessas.
Quimeras frustradas, eu estou ensopada.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Massa (des)medida

Posto-me de fronte pra mesa, e não poderia ver nada mais explícito.
Uma massa disforme, corre pela beirada, desampadara, desesperada, e consciente da eminência de cair.
Escorre tão profusamente como escorre o tempo das mãos.
Apesar de alguma base, de algo que a teoricamente sustentaria, ela se esparrama sem controle.

Esforço inútil. Não há como segurar; nem mesa nem mãos.
Inútil também é resvalar qualquer simbologia para essa massa bexiguenta. Para que nomeá-la? Para que mensurá-la?

Realmente, não posso negar, há os que tentam fazer. Aliás, a maioria tenta.
Final trágico e conhecido: acaba por ser enrolado e sufocado por algo sem controle, sem medida, sem nome.

O tempo sufoca.
Carcaça fétida embalada num relógio? Quero fugir disso.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Olhos

Mar branco. Não há necessidade de ondas.
Dou uma volta na sua periferia, que continuidade!
Sensação de infinito - não há diferença de texturas.
Banhava-me em toda brancura. Não havia preocupação; até que..

Topo em uma superfície dura. Que paradoxo em meio algo tão fluido!
Parece uma pedra. Vou averiguar. Mas será que devo? Está tudo tão maravilhoso aqui, pra que dar uma de Poirot?

Continuo a nadar, mas, ops! Bati na mesma superfície.
Deixe-me prestar atenção nela.

Hum.. parece que acompanha meu querido mar. E parece ser algo de principal.
É. Definitivamente não dá para permanecer incólume. Vou averiguar.

Isso não é uma pedra. Sei lá. tem várias cores. Nunca vi algo assim.
Quantas camadas, degradê. Isso é ainda mais maravilhoso que o mar branco.
E não preciso nadar. Só ficar olhando é bom.

Vou ficar olhando, olhando, olhando...

Ei! Mar, pára de ficar com ciúmes. Deixa a linda pedra quieta para eu poder melhor observá-la.
Mar! Você não tinha ondas! Era calmo e suave.
Para que se utilizar dessa película para descompassar tudo?
Não aumente a freqüência!
Páre! Páre!

A onda tomou mar, pedra, tudo.
Os olhos se fecharam.